terça-feira, 9 de dezembro de 2008

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UMA ENTREVISTA COM NOAM CHOMSKY

Como o sr. planeja celebrar seu aniversário?
Como um dia normal.

Há 50 anos, quando o sr. tinha 30, esperava ver um dia um negro na Presidência dos Estados Unidos?
Não. Até há bem pouco tempo nem esperava que os dois candidatos finalistas do Partido Democrata seriam uma mulher e um afro-americano. O fato de isso ter acontecido é um tributo ao ativismo dos anos 60 e suas conseqüências, que tiveram um efeito civilizador no país. A opinião da elite européia não está inteiramente errada quando observa com espanto que ''só nos Estados Unidos um milagre como esse poderia acontecer''.
Pelos padrões ocidentais, a eleição de um afro-americano 150 anos após a abolição da escravidão é realmente um evento histórico, diferentemente de na Europa, que é provavelmente mais racista que aqui. As democracias sul-americanas oferecem conquistas muito mais importantes, na Bolívia e no Brasil, por exemplo. E isso vale para o resto do Sul. Mas o racismo ocidental evita o reconhecimento, mesmo a constatação, de fatos como esses.

O sr. acha que Barack Obama está fadado a decepcionar parte das pessoas que votaram nele — e parte da opinião pública mundial —, dadas as impossivelmente altas expectativas a seu respeito?
Aqueles que escolheram se iludir sem dúvida vão ficar desapontados. Mas não se pode culpar Obama por isso. Afastada sua ''retórica altiva'', que parece ter impressionado tanta gente, ele nunca se apresentou como outra coisa além de um democrata familiar de centro, mais ou menos no molde de Bill Clinton (presidente de 1993 a 2001).
A natureza da eleição é muito bem compreendida pelos chefes dos partidos. Para ilustrar, a cabeleireira de Sarah Palin recebeu o dobro do salário do conselheiro de política externa de John McCain — e ela foi decerto duas vezes mais importante para a campanha.
A indústria de relações públicas, que apregoa abertamente vender os candidatos da mesma maneira que vende mercadorias, deu seu prêmio anual na categoria ''melhor marketing'' à venda da ''marca Obama''. A mídia de todas as tendências o elogia por organizar um ''exército'' que não contribui nada para as políticas do seu futuro governo, só espera instruções de como apoiar sua agenda, seja ela qual for.
Esse modelo é, muito claramente, não-democrático, mas um tipo de ditadura por escolha, uma construção política na qual o público — ''observadores intrusos e ignorantes'' — são ''espectadores da ação'', não ''participantes'', conforme o defendido por teóricos progressistas da democracia (nesse caso, o analista político Walter Lippmann, 1889-1974).



Qual sua opinião sobre as primeiras indicações do gabinete obamista, gente como Hillary Clinton no Estado, Robert Gates permanecendo na Defesa, Timothy Geithner no Tesouro? Era esse tipo de mudança que o sr. esperava?
Eu não esperava muito, mas fiquei surpreso que as escolhas de Obama causassem tamanho desdém em seus eleitores. Suas seleções estão tão inclinadas para a ''não-mudança'' e a ''não-esperança'' que Obama se sentiu obrigado a convocar uma entrevista coletiva, onde ele explicou que o seu governo será baseado na experiência e na visão: seu gabinete entrará com a experiência, ele dará a visão. Isso deve confortar os incréus.



Fonte: Folha de S.Paulo (7.12.2008)

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